Clichê dos clichês: Nada de bom passava na televisão. Não fui
planejado. Oito anos depois do meu irmão do meio eu apareci.
Onze anos separavam o temporão aqui do meu irmão mais velho.
Mas ao contrário do Arnaldo, o tal do meio, não fui objeto de
barganha. Sérgio, o tal mais velho tentou trocar meu querido irmão
apenas 3 anos mais novo que ele por um trem. Mas até dá para
entender: O tal trem assobiava várias melodias. Ao contrário
do desafinado Arnaldo. Talvez e provavelmente pelo lapso
temporal, o temporão que vos fala foi mimado. Admito.
Mas assim como os tais irmãos, aprendi direitinho o que é ser
sangue do mesmo sangue. Aprendi a ser amigo, a ser brother.
Aprendi que um irmão desafinado é bem mais bacana que um
trenzinho. Pela diferença de idade, eles me ajudaram bastante.
Abriram caminho e asfaltaram as pistas. Assim, nada era
perigoso demais, inconsequente demais ou maluco demais.
Aos treze: "Mãe, vou no show do Kiss, de ônibus".
Aos dezenove: "Mãe, vou ser voluntário no kibutz em Israel,
trabalhar e mergulhar um tempo no Egito, depois devo pegar
um navio para Europa, dormindo no deck é claro, viajar por
lá e por último, devo ficar uns quatro meses lavando panelas
ou algo parecido em Londres". Só nisto eu não pude seguir
os passos do mais velho Sérgio: Ele foi impedido de entrar
em terras britânicas. Sua aparência em geral e barba em
particular assustaram os súditos da rainha. O Arnaldo
também foi passar um ano fora. Mergulhamos com tubarão.
Fomos algumas vezes mergulhar no Caribe. Viajamos
e ficamos uma semana à bordo de um barco, em Abrolhos.
E com o Sérgio, atravessei o Canadá. Sua família, ele e eu
em uma Kombi com camas e cozinha. Enfim, graças a eles
pude fazer tudo. Me ensinaram a aproveitar todas as
oportunidades. E aproveitei. Brigamos, é lógico. Fui
adolescente e chato. Mas aprendi cedo o que é ser do
mesmo sangue. O que é tomar um tiro por alguém.
E nesta minha hora difícil, eles tem tomado uma saraivada
de balas com o meu nome na ponta. Desnecessário
escrever sobre tais petardos. Desnecessário dizer o quanto
mais próximos estamos. Aí vejo e fico sabendo de brigas
entre irmãos e fico chocado. Esqueça o sangue, dane-se
os laços. Viva a ganância, o poder, a grana. Irmãos que
se odeiam, brigam, se matam. Quse sempre o motivo é o
mesmo: dim-dim. Não tenho dúvida que se tivesse uma
vacina com minha cura, custasse o que custasse, meus
irmãos iam fazer qustão de dividir. Tem irmão? irmãos?
São seu sangue, tome conta. Lutem juntos. Como papai
e mamãe diriam: "sem brigas, meninos, sem brigas".