Lei da Compensação

Não é um incentivo novo feito pelo Itaú só pra você.
Não foram precisos grandes gênios para elaborar tal absurdo,
apenas minha pessoa e a necessidade de acreditar em algo.
Quando eu tinha 5 anos de idade, meu pai morreu.
Sim, assim curto e seco, infarte. Não me deixou fábricas, lojas,
amigos poderosos, conselhos ou uma tal de presença paterna.
Me deixou uma dona-de-casa que nunca havia trabalhado
com um rebento de 16, um de 13 e esse interlocutor
que vos escreve. E foi aí que comecei a desenvolver essa idéia
estapafúrdia: Como perdi meu pai cedo, minha mãe era pra sempre.
Era, até 2006, quando foi dormir sem nada, sem rugas, sem dores,
doenças ou grandes preocupações e não mais acordou.
Um mês depois o pai de um amigo, estressado, fumante inveterado,
teve um infarte e está aí até hoje. A mãe de um amigo
do meu irmão teve tempo de ter e curar um câncer.
E eu, por não ter tido pai, por ter sido asmático, por ter perdido
a pessoa que mais amava  tão de repente, achava que já tinha tido
minha dose de sofrimento. Era só continuar vivendo e um dia ter
a morte dos justos: dormir e não mais acordar, como minha mãe...
Não preciso dizer que a dura realidade veio me mostrar que essa
tal lei foi uma sandice, apesar dos tantos sacanas, desonestos,
e nosferatus por aí, apesar da minha quantidade
de sofrimento prévio ou minhas boas ações ou meu rígido
código moral, quem contraiu uma doença muito séria,
com complicações e efeitos colaterais que só fazem aparecer,
sim caro internauta, fui eu.
Vou superar e aguardar pela próxima ausência de compensação,
porque como percebi à duras penas, tal lei simplesmente
foi uma invencionice. Nem sei se o tal sono dos justos
também existe: de repente antes de entrar no céu você tem
que cumprir trabalho forçado em uma agência de publicidade.
Imaginou???!