domingo, 10 de abril de 2011

Marathon Man


Você acorda cedo. Bem cedo. Tenso. Bem tenso. Após
inúmeras idas ao banheiro, após amarrar os tênis várias vezes
por achar eles muito apertados ou muito soltos, após um
estranho ritual de passar vaselina por recônditos corporais
inimagináveis, o tiro de largada é dado e você sai. Correndo.
É o que você vai fazer pelas próximas três horas. Isto se você
for muito bom, senão três horas e meia, quatro, quatro horas
e meia. Não tem mágica. Você vai fazer aquilo que treinou.
Os primeiros dez quilômetros são bem estranhos. Aquecendo,
você não está muito confiante, acha que não está preparado,
suas pernas estão cansadas, seus orgãos internos se fecharam
em uma reunião confabulando para encontrar harmonia
entre os departamentos. E a reunião acaba. As vezes no nove,
as vezes no dez ou quinze. E você se sente bem. Tem que
passar pela meia zerado, fingir que a corrida começa agora.
De certa forma começa. Você tem que fazer a segunda
metade mais forte. Você chega nos trinta. Mas pode acontecer
no vinte e nove. Ou trinta e cinco. O paredão. Intransponível.
Outra metáfora? A transportadora deposita o piano-de-cauda
em suas costas. Administre até os trinta e nove e comece a
acelerar. Acelerar? Sim, faltam só três qilômetros, cento e
noventa e cinco metros e você quer cravar um tempaço.
Indepedente dos outros, você quer se superar, bater o seu
próprio tempo. Esqueça o velhinho que te passou voando
baixo. Você não sabe quantas ele já correu, nem da vida dele.
Cada um é um. Deu para imaginar o que é uma maratona?
Eu corri treze. Vá até a esteira da sua academia e coloque
a velocidade de doze quilômetros por hora. Corra 42,195 km
e você terá completado a prova em três horas e meia. Cinco
minutos o quilômetro. Com algum treino, este era um ritmo
confortável para mim. Corri para quatro minutos e trinta
segundos o quilômetro. Na sua esteira, uns treze e meio,
quatorze quilômetros por hora. Eu que entendia tão bem
de maratonas, não entendia o uso tão leviano desta palavra.
Maratona do Tom & Jerri no Cartoon Network. Maratona
do Nhoque na Cantina do Babo. Maratona dos Tubarões
no Discovery. Maratona do Beijo no Shopping Bourbon.
Para mim, era uma heresia usar a palavra "Maratona"
para algo que não os 42,195 km de uma corrida de rua.
Agora entendi. E como corredor de maratonas tenho
o respaldo para usar tal palavra como bem entender.
Usarei em algo absurdamente longo e extenuante.
A doença? A luta? O tratamento quimioterápico?
A incerteza? Hmm, perfeito: Estou na Maratona
pela Vida. Mas ainda não vislumbrei a linha de chegada.
Haja vaselina.
     

4 comentários:

Eduardo Di Lascio disse...

O mais legal até agora. 10, nota 10!

Unknown disse...

Concordo com o Eduardo. Este texto e' excelente!

Alvaro disse...

Como já disse em outras ocasiões e repito agora: viiiggooorrrrr!

HARLYSTAS - RIO GRANDE DO SUL disse...

RUN CLAUDIAO RUN...