quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Self- Portrait

Oito ou oitenta. Quente ou frio, morno eu vomito. Prazer. Este
sou eu. Tive fases bem delineadas justamente por isto. Se começo
algo e me interesso, caio de cabeça. Mergulhei fundo no mergulho.
Fiz o curso básico. De caça, avançado, rescue-diver até dive-master.
Mergulhei com raias, baleias, moréias, tubarões. Até peixes.
Em navios, um Airbus, cavernas, paredões. Raso e fundo.
Consegui. Sou O Mergulhador. Sou O Fodão.
E quando comecei a correr? Para não me destruir nas agências,
me reconstruí nas ruas. Voltei a nadar. Vou correr uma maratona.
Tempo não importa. Na primeira não. Na segunda, sim.
Na décima, sim. Nado 3km por dia, corro hora e meia, faço
a maratona para baixo de 3h10’, os 10km pra baixo de 39’.
Consegui. Sou O Maratonista. Sou O Fodão.
Radical. Enquanto os outros fazem uma tattoo na perna, eu fecho
os braços. E foi assim com tudo na minha vida. Talvez por isso
eu tenho tantas viagens, tantas coisas vistas, vividas. Sempre
me atirei. Mas sempre perdia um interesse por outro. E me achava
radical demais. Conscientemente, quis mudar. O bandidão, tatuado
e harleyro também pode ser corredor e até, pasmén, mergulhador.
Comecei com exito a dosar as coisas. Não preciso ser fodão.
Preciso fazer as coisas e ter prazer com elas. Preciso me cobrar
menos, curtir mais. E um belo dia, eis que veio a doença.
Não vou ter um simples câncer de próstata. Não me venha com
um cancerzinho no pulmão. Para mim tem que ser um câncer mais
difícil. E eis que paro de andar de moto, andar a pé, correr, nadar,
mergulhar, namorar. Radical, vou me dedicar só a doença.
Consegui. Sou O Paciente. Sou O Fodão.

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