domingo, 13 de março de 2011

Meda


Confesso. Tinha medo de cobras. Tenho ainda. E não
gosto de pimentão. Só. Nunca fui medroso. Sempre fui
cauteloso. Medi riscos. Mas me joguei de cabeça.
Me joguei de pontes. De bungee jumping, de pára-quedas,
de mastros de barcos. Mergulhei com tubarões, nadei
em mar aberto, fiz wakeboard, o que viesse eu topava.
Viagens? Com amigos, com namoradas, com quem me
arrependo, sozinho. Sempre me dei bem comigo mesmo.
Destemido. Até em momentos que não me orgulho, em um
passado remotíssimo, fazia questão de deixar claro este
posicionamento: Quando me metia em brigas, ia para
as cabeças. Os cabeças. Escolhia logo o maior, mais forte
e lhe dava uma belíssima surra. Não, não me envaideço e
esta passagem ia ficar de fora deste ou qualquer outro texto,
mas é um bom exemplo de como me posicionava em relação
a vida. Fearless. Aí fui acometido por esta doença e tudo
mudou. Agora tenho um misto de vergonha e medo ao sair.
Se vou a lugares badalados, sinto que todos olham para mim.
Vergonha? Não matei ninguém, não roubei, não me envolvi
em negócios fraudulentos e certamente não prejudiquei
ninguém. Mas falar é fácil. Gordo, inchado e andando
apoiado em alguém. Com medo de andar muito,
de ter que subir uma escada, de descer uma escada,
de precisar ir ao banheiro. Medroso. Chickenshit.
A vaidade não é um dos pecados capitais? Então, explicado.
Mas quer saber? Nem faço questão de ser como eu era.
Muitas características do antigo eu serão enterradas.
Definitivamente não quero ser destemido. Ou medroso.
Só faço questão de continuar não gostando de pimentões.
Verdes e vermelhos. E cobras.

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