quarta-feira, 16 de março de 2011

Tears in Heaven


Toda noite ao dormir, você morre. E ao acordar na manhã seguinte,
renasce. Talvez seja um pensamento simplista, pueril, mas gosto.
E nesta manhã acordei diferente. Nada de cama, nada de quarto,
nada de rascunho mal-ajambrado do que já fui. O que já fui andava
placidamente em um infalível trinômio tênis, jeans e camiseta. Nem
ruas, nem estradas, prédios nem nada. Um fundo infinito branco.
Talvez nuvens? E lá estavam todos me aguardando anciosamente,
incrédulos. Meu pai que me via mas não me abraçava há 35 anos.
minha mãezinha que não se continha em si. Os pais de meus pais,
todos esperando pelo netinho, o Kuka. O abraço coletivo foi tão
forte que faltou-me ar. Meu pai e minha mãe não cansavam de
me abraçar e beijar. Um misto de alegria e tristeza abraçava a todos.
Os pais do meu pai balbuciavam palavras amorosas em ídishe.
O cheiro inebriante da lasanha da minha vó Zilda tomava conta
do lugar, deixando a calmaria meio agitada. Meu pai tinha
um sorriso gigantesco no rosto, acredito que um misto de me
ver e o aroma da massa que sua sogra preparara com tanto amor.
Difícil colocar tanta emoção em palavras. E meus pais, incansáveis,
continuavam a me beijar. Quanta conversa teria quando meu pai
se recompusesse, eu que nunca tive um chat adulto com ele.
Por mais que a conversa viria com o tempo, com o convívio,
com o amor. E amor haveria de sobra. Uma surpresa mais
e todos sabiam. A lasanha teria que esperar um pouquinho.
Foi quando vi e também soube: meu amigo Allan, sua V-Rod
e minha Heritage me esperavam. Não tema, família querida,
no céu não existem acidentes de trânsito. Tenho a certeza que
se tivessem mais motos a disposição, todos iriam. Como uma
criança, zeide Gregório já estava sentado na minha Harley
fazendo com a boca barulhos de motor acelerando e rindo.
Todos riam muito. Que momento lindo. E tenho a certeza que depois
iria ver meus tios Dudi e Tudor e seu indefectível Volks TC laranja.
Com meus amigos Roberto e Hélhinho, aprontaria e daria belas
gargalhadas. Já se iam 25 anos sem ver o Roberto e uns 10 sem ver
o Hélhinho. Eles foram embora bem cedo. Sem contar as discussões
acaloradas que embateria com o Gordon ou as barras e abdominais
que suaria em fazer com o vizinho Luciano. A noite teria show
de uma banda nova: Freddie Mercury, Jimmy Hendrix, Keith Moon
e Phill Lynott. Uma vez mais, zeide Gregório e seu bom humor
peculiar já deram sinais de interesse. Mas um clarão deixou tudo
para trás. Pai amado, mãe amada, avôs, tios e amigos amados,
vocês vão ter que esperar um pouco mais. A luz do sol invadiu
meu quarto e meu sonho anunciando um dia mais de batalha.
Fisioterapia e vontade de viver, aí vou eu.

5 comentários:

Eduardo Di Lascio disse...

Calma que esse encontro um dia chega, mas vai demorar muito tempo ainda.

Carol De Luizi disse...

Que delicia de sonho...

HARLYSTAS - RIO GRANDE DO SUL disse...

Fica frio que tu ainda me deve uma visita aqui no SUL pra gente rodar rumo ao PAMPA ARGENTINO. Aqui no SUL sempre na torcida... REI

PS.: HOJE TU FEZ CHORAR...

Unknown disse...

Fucking nice!!!
Belíssimo texto!
Passo por aqui todo dia, não te conheço pessoalmente mas através dos teus textos parece que até conheço.
Força, que aposto que tem muita gente como eu, que não te conhece mas torce por você.

Forte abraço!

Anônimo disse...

me emocionei!!!! impressionante sua luta diaria...