A Verdade

A verdade e sinceridade embutidas nas coisas ditas por uma criança

podem ser inebriantes. "Pai, quando a gente vai voltar a brincar? 
Tô com saudades". Foi assim que começou uma conversa 
desconcertante. Ele me desarmou com esta singela pergunta. 
A lógica simples das crianças. A ignorância desalmada 
dos adultos: "Não sei filhão...". Uma resposta simples 
e direta. Era só o que ele queria e o que eu queria. 
Mesmo diante deste prisma tão simples, não batemos

o martelo. Nenhum veredito. Nada. Vou ficar devendo.

Poderia ser evasivo como um adulto, poderia rodear, florear

e acabar sem entregar patavinas. Não pude. "Não sei filhão..."

foi a resposta mais verdadeira que consegui. Acontece que a

verdade prevalece. Sempre. Seus olhos gigantemente puros,

desprovidos de uma partícula sequer de maldade entenderam.

Tomei uma lambida agradecida no rosto e adormecemos.